Segue o texto:
Juliana ficou chocada. "Ninguém se mostrou perturbado, e apenas um dos meus interlocutores perguntou qual o motivo da minha decisão." Em outras comunidades, ela encontrou pessoas disseminando abertamente a violência e a intolerância, como homofobia e racismo. Uma antropóloga ouvida por ela identificou 14 mil sites de conteúdo nazista. Numa sala de bate-papo, a repórter começou a conversar com um homem de declarados 22 anos. "Eu disse que tinha 12 anos, mas meu interlocutor não se intimidou. 'Curte falar de sexo?', continuou. 'Sou tímida', recuei. 'Já fez sexo?', ele insistiu. Respondi que não e perguntei se não me achava muito nova. 'Só pra gente brincar, só matar a curiosidade (...). Você me mostra algumas coisinhas, eu te mostro tudinho que você tem vontade.' Ela concluiu que, como não há controle, "crianças de qualquer idade poderiam estar participando da conversa."
O resultado desse mergulho em zonas sombrias da internet levou a jornalista a questionar: "Onde termina a liberdade de expressão e onde começa o crime?" É bem verdade que, como ela admite, não foi a rede que inventou essas patologias; "ela apenas facilita a conexão entre as pessoas". Mas é crescente a influência do mundo virtual sobre o real. Em 2006, um jovem gaúcho de 16 anos se suicidou induzido por seu grupo de discussão a inalar monóxido de carbono. No ano seguinte, em Ponta Grossa, outro jovem se matou de forma semelhante. Nos EUA há uma infinidade de casos iguais. É um princípio de imitação que parece funcionar para os comportamentos desviantes.
Evitar que um instrumento tão útil e poderoso como a internet seja usado impunemente para promover o mal, eis uma das questões cruciais dessa nossa sociedade de informação."