quarta-feira, 16 de julho de 2008

Cadê o passarinho?

Oi pessoal!

Bom, vou inaugurar as postagens de resumo mandando o meu, certo?
Quero depois mandar o mesmo artigo para o coneco (pode, ne?) entao eu ia amar ter comentarios sobre o resumo. Ta meio grandinho, ta?
Ah! Acabei me deixando influenciar pela onda ambientalista que gira em torno de mim, morando na Ilha Grande, para dar titulo ao trabalho :)

Beijinhos.

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Cadê o passarinho? Ameaça de extinção da pose na imagem de família.

Ligia Diogo

Resumo:

Ameaça de extinção é um tema sério e recorrente em tempos de consciência ambiental, mas também em outras áreas do conhecimento, não diretamente ligadas às ciências naturais, é uma prática comum anunciar o fim de algo.

Se muitos de nós, principalmente quando crianças, já se perguntaram o significado das expressões “Olha o passarinho!”, “Digam X!” e “Whisky!”, ditos para anunciar o click da máquina fotográfica ou o rec da filmadora, não era segredo para ninguém o porquê do uso das mesmas. Tais expressões pareciam indissociáveis do ato de ser fotografado ou filmado, pois serviam como dispositivos que nos avisavam que era hora de fazer pose, olhar para a câmera sorrindo, parar de falar para não sair na imagem de boca aberta, hora de fazer careta, colocando o máximo da língua para fora e arregalando bem os olhos, dependendo da faixa etária da pessoa na mira da câmera.

Fazer pose para ser captado pelo olho da câmera fez parte do ritual de ser fotografado desde o surgimento da fotografia. No início, entretanto, não bastava sorrir para receber o flash, era preciso inclusive fazer uso de colunas de gesso para suportar ficar imóvel pelo longo tempo necessário para que a imagem fosse registrada na chapa metálica. Alem disso, para a pose havia um código a ser seguido para que o resultado ficasse o melhor possível: as fotografias eram feitas por profissionais, as pessoas vestiam suas melhores roupas, as mulheres se maquiavam, a posição do corpo era imponente e o rosto mantinha uma expressão séria (por ser difícil sorrir por tanto tempo e também por não ser de bom tom, naquela época, ser imortalizado sorrindo).

De 1840 até os dias de hoje, a forma como as pessoas se portam para os diferentes tipos de câmeras vem mudando continuamente. Para entender essa transformação, partiremos numa busca pelo “passarinho” que tentávamos enxergar lá no buraquinho da câmera, ao nos preparar para o instante da foto ou para o início da filmagem, que nos anunciava o momento da pose e que talvez esteja ameaçado de ser extinto.

Tendo como foco de interesse as imagens de família e partindo de uma abordagem genealógica, na qual o homem e suas práticas sociais são tidos como históricos, pretendemos investigar a forma como as pessoas são registradas nos diferentes suportes, da fotografia analógica ao vídeo digital.

Iniciaremos nossa trajetória na primeira metade do século XIX, pois acreditamos que o início da produção de imagens de família se deu nesse período e listaremos, de forma breve, três motivos interconectados para esse recorte.

Primeiramente, foi nesse período em que a fotografia surgiu e esta possibilitou uma inédita popularização do acesso à imagem, e da produção de imagens de si e de pessoas próximas. Até então, um retrato pintado, ou mesmo desenhado, era caro e acessível apenas à nobreza e aos mais ricos burgueses (Barthes, 1984). Também é importante ressaltar que a imagem fotográfica, ao surgir, rompeu com toda uma tradição de representações, determinando uma relação totalmente nova entre a imagem e o ser representado.

Em segundo lugar, vale destacar que o mesmo período é marcado por uma determinada dinâmica social na qual dois espaços vão se tornando cada vez mais diferenciados e separados: o espaço público e o espaço privado. Surgia a idéia de que o homem é verdadeiro apenas em sua intimidade, dentro de casa e com a família. O espaço privado seria valorizado e o homem moderno teria na família e na construção, manutenção e valoração de sua intimidade uma característica forte e determinante.

Como último fator, apontamos o fato de que nessa época se acentua um processo de dessacralização das imagens e da obra de arte, com o declínio do valor religioso e de culto que possuíam. A fotografia e o cinema teriam sido cruciais nesse processo. Porem, um tipo de fotografia específico, sobre o qual Walter Benjamim escreveu, as fotografias de rostos (Benjamin, 1985), manteve-se possuidor de um certo valor de culto. Ou seja, as imagens não teriam perdido completamente a magia, pois as fotografias de nós mesmos e de entes queridos passariam a apresentar, como característica intrínseca, algo para além de si, algo como um “espírito”.

Interessam-nos todas as imagens de família produzidas desde então. Durante cerca de um século e meio, apesar do barateamento dos meios de produção e do aumento significativo da quantidade de fotos e registros em Super-8 ou em vídeo, as famílias continuaram cultivando certo fascínio pelas imagens de si. Tais registros eram guardados com muito cuidado em álbuns, caixas ou baús, sendo remexidos com freqüência para que as pessoas e os momentos do passado fossem relembrados.

A nossa busca se encerraria nos dias de hoje, considerando as fotografias digitais e a postagem de vídeos de família no youtube. Distinguiremos, então, a imagem fixa da imagem em movimento e, em seguida, destacaremos cronologicamente sete momentos da imagem de família nesse percurso histórico. Diversos fatores serão considerados como índices para detectar as mudanças aqui sugeridas; tais como, a preocupação com a expressão do rosto, com a postura, com as roupas, com a maquiagem, o preço das câmeras e outros equipamentos, o grau de profissionalismo de quem os manipula, o evento familiar ou social tema da imagem, o lugar onde esta imagem foi feita, etc.

O objetivo central do presente trabalho será relacionar o desenvolvimento das tecnologias de captura, armazenamento e exibição de imagem e som à forma como as pessoas posam ou aparecem nos registros de família. Mas queremos também associar a pose, ou o fim da mesma, a mudanças mais profundas ligadas à importância da imagem no seio da família, aos conceitos de intimidade, memória e exposição e ao papel da própria família na dinâmica social.

Seguiremos a pista de que quando a imagem de família ganha, por exemplo, movimento e som, a pose como conhecíamos passa a ter dificuldade de se manter. O “passarinho” voa livre para o horizonte, desviando o olhar e a atenção daquele que está sendo imortalizado pela imagem. Mas o vôo daquele não determinaria a liberdade do alvo da imagem, pois outros dispositivos teriam surgido e a imagem de família continuaria obedecendo a um código social.

Sugerimos que em oposição a idéia de extinção, surgem possíveis reformulações, novas configurações, antes impossíveis ou inimagináveis, que explicariam a pose na nova imagem de família. Assim, a tecnologia e novas formas de ser provocariam transformações na pose. Tal forma de entendimento de um fenômeno, talvez mais complexa que a ameaça de extinção, por coincidência também se faz presente nos estudos ambientais contemporâneos (assim como na literatura de ficção cientifica) sendo chamada mutação.

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